Lançado na Netflix, a sátira apocalíptica Não Olhe Para Cima gera reflexões relevantes sobre a desinformação, o negacionismo e a propaganda eleitoral. Em uma trama sobre a extinção da raça humana na Terra, a chegada de um cometa com diâmetro de cerca de 10 km surge como determinante para que acadêmicos e políticos entrem em conflito, enquanto colocam em evidência um questionamento que mexe até mesmo com os mais céticos: um meteorito de tamanha proporção realmente poderia destruir o planeta?

Formados há cerca de 4,6 bilhões de anos, segundo a Agência Espacial Europeia (ESA), os cometas são eventos cósmicos caracterizados pela presença de uma longa cauda luminosa feita de poeira e gás — substâncias liberadas quando a superfície do astro, constituída principalmente de gelo, evapora com o calor do Sol. Facilmente confundidos com meteoros, devido ao feixe de luz que surge com a passagem do corpo pela atmosfera, os cometas guardam os mesmos danos severos depois do impacto e podem carregar, paralelamente, outros fragmentos de rochas que se espalham por milhares de quilômetros durante a queda.
A probabilidade de que material interplanetário caia na superfície terrestre é alta, mas ocorre, em quase sua totalidade, apenas na forma de poeira cósmica, com cerca de 100 toneladas registradas diariamente. A grande incidência desse encontro é definida pela presença, em larga escala, de objetos que se localizam a até 50 milhões de quilômetros da órbita da Terra — cientificamente conhecidos como Objetos Próximos à Terra (NEO), de acordo com definição apontada pelo Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior (Unoosa).

Desde 1980, quase 28 mil NEOS foram identificados pela NASA, em que 117 eram cometas e outros 2.238 eram “Asteroides Potencialmente Perigosos”, passando a 4,7 milhões de km da órbita da Terra e com dimensões maiores que 140 metros de diâmetro. Felizmente, a probabilidade de um desastre é historicamente baixa, já que há uma pequena média de impacto de asteroides com mais de 100 metros registrados a cada 10 mil anos e de objetos com mais de um quilômetro de diâmetro a cada “várias centenas de milhares de anos”.
Defesa melhor que a da empresa BASH?
O cometa de Não Olhe Para Cima detém, narrativamente, proporções semelhantes às estimadas do meteorito que causou a extinção dos dinossauros há 65 milhões de anos. Portanto, um incidente dessa escala poderia realmente levar à destruição do planeta, mas a NASA informou que “nenhum asteroide conhecido apresenta um risco significativo de impacto com a Terra nos próximos 100 anos”.
Para conter riscos, a agência espacial tem protocolos de defesa que identificam e rastreiam a trajetória de ameaças espaciais, definem suas propriedades, projetam e avaliam as consequências de um possível impacto. Assim, compartilham as informações com outros órgãos e desenvolvem métodos para desviar asteroides, além do envio de missões com objetivos de desviar cursos de asteroides através da colisão direta — e não com a instalação de minas explosivas.
(Fonte: Getty Images/Reprodução)
Além disso, outra questão considerada no filme é a extração de recursos minerais da rocha, que acaba sendo priorizada em detrimento da defesa humana pela corporação telefônica de Isherwell (Mark Rylance). Essa trama foi fundamentada em estudos realizados sobre o Cinturão de Asteroides, que determinou uma existência de metais como ferro, níquel, platina e ouro avaliados em US$ 100 bilhões para cada pessoa na Terra.
Atualmente, a NASA e a SpaceX, de Elon Musk, planejam uma missão para chegar ao asteroide Psyche 16, descoberto em 1852, visando identificar um potencial estimado em US$ 10 quintilhões, valor cerca de 70 mil vezes mais do que o total da economia global em 2019.